sábado, 10 de abril de 2010

Surgimento das Torcidas e Violência nos Estádios

Ao Pesquisar na internet encontrei um artigo muito interessante sobre o surgimento das torcidas organizadas, que fala um pouco também de como funcionava a estrutura das primeiras torcidas organizadas e a partir de que momento a estrutura começou a se transformar para os moldes atuais.
O nome do artigo é TORCIDAS ORGANIZADAS DE FUTEBOL: METAMORFOSES DE UM
FENÔMENO DE MASSA dos autores: Ms. José Correia Sobrinho (in memorian)
Iran Hermenegildo César

Decidi colocar apenas um trecho que considerei mais importante dentro do contexto da nossa pesquisa e acredito que a partir de agora visando a compactação das pesquisas feitas até agora e a escolha de um rumo para o nosso trabalho esse trecho seja muito importante pois fala das torcidas organizadas desde sua estrutura social, como econômica também, citando que essas torcidas se tornam verdadeiras empresas com seus diversos produtos e tudo mais...além disso é citado que as torcidas organizadas também realizam projetos sociais e que esses projetos sociais são muitas vezes as únicas fontes de lazer em comunidades mais carentes.

Trecho do Artigo:

3 O surgimento das torcidas e a violência nos estádios

Manifestações torcedoras sempre se fizeram presente em partidas de futebol.A primeira forma dessa manifestação, por exemplo, é denominada, por alguns pesquisadores, de torcidas voluntárias. Torcidas que, no início da nossa história do futebol, se reuniam única e exclusivamente em conseqüência dos jogos e tinham como elemento unificado a paixão, ou a simpatia, que nutriam por um ou por outro clube .
Nesse momento, os laços de identidade e de solidariedade ficariam restritos ao espaço de duração dos jogos, podendo ser revividos em momentos do cotidiano desses torcedores, como em bares e rodas de amigos. E a rivalidade se daria mais em oposição, propiciada com o início da industrialização brasileira em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, entre o nativo e o estrangeiro que, nesse contexto, passavam a disputar um mercado de trabalho em formação.
Novas formas torcedoras, segundo TOLEDO (1996), surgiram nos anos 1940. Devido à sua estrutura, essas torcidas possibilitavam a continuidade da identidade e dos sentimentos de unidade vivenciados pelos apaixonados do futebol e que antes se restringiam quase que exclusivamente aos momentos dos jogos.
E isso é possibilitado com a fundação, em 1940, da Torcida Uniformizada do São Paulo F.C, pelos chamados torcedores símbolo Manoel Porfírio da Paz e Laudo Natel e, em 1942, no Rio de Janeiro, com a fundação da Charanga do Flamengo por Jaime Rodrigues de Carvalho.
De acordo com TOLEDO (1996), essas torcidas tinham uma estrutura básica de organização, com o comando de uma só pessoa, conhecida como “o chefe de torcida”, que agrupava em torno de si dezenas de simpatizantes, sendo as mesmas vinculadas aos clubes através de políticos, dirigentes ou funcionários.
Diferentemente, as torcidas organizadas de hoje, que vemos com suas práticas violentas, cânticos e expressões verbais de hostilidade e de desprezo aos adversários, são consideradas como um fenômeno mais recente, datando do final do dos anos 1960. A “Gaviões da Fiel”, uma das maiores torcidas organizadas de futebol, foi fundada em 1969 depois de uma discussão com um dos dirigentes do Clube. Para DIAFÉRIA, os integrantes da “Gaviões da Fiel” foram os primeiros que realmente se organizaram, com o propósito de ajudar seu clube (Sport Club Corinthians). Sua história começa no dia 01 de julho de 1969, data
em que o clube estava, mais uma vez, fora da disputa do título
Essa nova torcida se caracteriza por apresentar seus componentes de forma impessoal. Não são centradas na figura de uma só pessoa, como as anteriores, burocratizadas na sua estrutura organizacional, estatuídas, com presidente eleito para um período determinado, conselho deliberativo, diretoria e sócios, constituindo-se como uma empresa privada, sem fins lucrativos.

Ao contrário de outros fenômenos de expressão juvenil, como as gangues, por exemplo, e até mesmo do fenômeno torcedor inglês, os hoolingans, as nossas torcidas estariam atuando dentro do que denominamos de “esfera da legalidade”, dentro do espaço aonde são reconhecidas como legais e legítimas representantes dos
clubes, por torcedores, imprensa e o público de modo geral (...)
Além dessas características identificadas por nós como exclusivas das novas formas de torcer, surgidas a partir do final dos anos 1960, outra característica importante é o suposto papel social defendido pelos dirigentes de torcidas organizadas, quando alegam que em vários momentos, nas periferias dos grandes centros urbanos, são essas torcidas organizadas que promovem o lazer, se engajam em campanhas filantrópicas e garantem a assistência
médica, como no caso da torcida Mancha Verde, em São Paulo, aos seus associados. Os torcedores não são meros espectadores passivos, como nos afirma BARROS(1990), eles formam grupos, cobram mensalidades, vendem camisetas, chaveiros, flâmulas, e tudo que pode trazer dinheiro, uma atividade que virou também um comércio e, como todo comércio, para ser rentável, precisa de uma propaganda positiva. Na verdade, a partir do momento em que se constituem em empresa4, acompanhando a evolução que teria ocorrido com os clubes, as torcidas teriam obtido um grau maior de autonomia em relação àqueles, ampliando seu espaço de atuação, trazendo, para o dia-a-dia,uma rivalidade antes vista exclusivamente nos campos de futebol.
E como toda organização que se preza, as torcidas se utilizam de um marketing para divulgar seus produtos e – nesse caso – despontar como temidas e violentas, podendo isso ser uma forma de cada vez mais atrair para seu interior um mercado consumidor, constituído, na sua maioria, por jovens que buscam não só segurança e algo no que acreditar, mas identidade e visibilidade social. Um público consumidor não só de um produto “Mancha” ou
“Gaviões” etc., expresso nos uniformes, bonés, camisetas, mas também do lúdico e todo imaginário construído pelo grupo.
De acordo com CORREIA SOBRINHO (1997), no momento em que se constituem em empresas, as torcidas teriam adquirido uma maior autonomia em relação aos clubes, ampliando seu espaço de atuação, trazendo, em conseqüência, para o dia-a-dia, uma rivalidade antes vista, quase que exclusivamente, nos momentos dos jogos. Daí as ocorrências envolvendo torcedores em estações ferroviárias, ponto de ônibus, onde o vestir uma camiseta
adversária já o coloca como possível vítima da agressividade de grupos rivais.

As torcidas, à medida que ganharam autonomia em relação aos clubes, tomaram para si e (re)significaram não só as cores, mas todos os símbolos que caracterizavam os respectivos clubes. São elas, hoje, o elemento proporcionador da identidade, da unidade5, do sentimento de segurança. Um integrante de uma torcida organizada não diz “sou torcedor de tal clube”; ele diz sou membro de “tal organizada que torce por tal clube”.

link para o artigo completo:http://www.cchla.ufrn.br/interlegere/revista/pdf/3/ex02.pdf

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